domingo, 19 de novembro de 2006

Para que não me acusem de plagio,
mas o Eduardo merece esta publicação no meu aquário
porque eu ás vezes também me sinto culpada...

" Construir um país

Precisa-se de matéria prima para construir um País
Eduardo Prado Coelho - in Público

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia,
bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que
Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também
não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o
problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na
farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo.

Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país
onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais
do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma
virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em
valores e respeito aos demais.

Pertenço a um país onde,lamentavelmente,
os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países,
isto é, pondo umas caixas nos passeios onde
se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL,

DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são
fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos,
que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel,
lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os
trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram
comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a
declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram
lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os
esgotos.

Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens
dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem
memória política, histórica nem económica.
Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana
para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres,
arreliar a classe média e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações
médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.

Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher
com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no
autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme
para não dar-lhe o lugar.
Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
Um país onde fazemos muitas coisas erradas,
mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me
sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem
corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu
como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei
um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar
algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas,
mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso
país precisa.
Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita,
essa desonestidade em pequena escala,
que depois cresce e evolui até converter-se em casos
escandalosos na política, essa falta de qualidade humana,
mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e
honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós,
ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...

Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje
mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando
com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo,
somos nós mesmos. E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor,
mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os
vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve
Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei
com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima,
ou de cima para baixo, ou do centro para os lados,
ou como queiram, seguiremos igualmente condenados,
igualmente estancados....igualmente abusados!

É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade
autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades
de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos
mandam um messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos
portugueses nada poderá fazer. Está muito claro...
Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos
acontecer:desculpamos a mediocridade
de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com
o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o
responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe
(sim,exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de
mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e

ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME
OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO
PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.

E você, o que pensa?.... MEDITE!"

EDUARDO PRADO COELHO