quarta-feira, 27 de abril de 2011


Luzio Vaz: o rosto de uma vida
dedicada aos estudantes


“Não me arrependo de me ter apaixonado pelos estudantes”, confessou Luzio Vaz, numa das várias homenagens de que foi alvo, quando se aposentou dos SASUC. Faleceu ontem nos HUC, com 70 anos

António Luzio Vaz, ex-administrador dos Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra (SASUC), morreu ontem, aos 70 anos, de doença prolongada. Licenciado em Direito e administrador dos serviços sociais durante 30 anos (até Dezembro de 2010), faleceu nos Hospitais da Universidade de Coimbra, onde foi internado há alguns dias devido a um agravamento do seu estado de saúde.
Luzio Vaz é um caso raro de unanimidade e, ao longo do dia de ontem, sucederam-se os testemunhos de homenagem a alguém que se tornou numa das personalidades mais queridas e emblemáticas da Academia de Coimbra. Se os SASUC lhe preencheram grande parte da vida, como homem de coração grande que era, as suas paixões expressaram-se também pela advocacia, sem esquecer o Coro dos Antigos Orfeonistas, de que foi presidente da direcção. Actualmente, estava à frente da Assembleia Geral.
Pai de família, tinha dois filhos do primeiro casamento: um técnico superior na Universidade de Coimbra e outro juiz. E, mais tarde, nasceu a Beatriz e o António, ambos menores de idade.
Em Janeiro de 2010, já aposentado dos SASUC, António Luzio Vaz foi substituído nestas funções por Jorge Gouveia Monteiro, antigo vereador da CDU da Câmara Municipal de Coimbra. Um mês antes, apresentou na Sala do Senado da Universidade um livro sobre a história e a actividade dos Serviços Sociais da instituição, editado pela Imprensa da Universidade de Coimbra (IUC).
«A minha preocupação foi deixar um testemunho sobre todos aqueles que ajudaram a criar os serviços sociais da Universidade de Coimbra», disse na altura o autor à Lusa. Intitulada “Acção Social Escolar na Universidade de Coimbra – Perspectiva Histórica e Princípios Orientadores”, a obra analisa os serviços sociais universitários, desde os primórdios, passando pelo Estado Novo até à actualidade.
Na época, o ainda reitor Fernando Seabra Santos salientava que Luzio Vaz protagonizou uma «revolução silenciosa», que, através da acção social conseguiu levar para a UC «centenas de milhares de jovens anteriormente impedidos de lá chegar por razões de natureza económica».
Seguiu-se a homenagem da AAC ao seu sócio honorário, naquela que foi o último acto de Jorge Serrote, como presidente da Direcção Geral. «Caro amigo, milhares de estudantes estão em dívida consigo», adiantava Serrote perante um ex-adminsitrador dos SASUC que assumiu, sem pudores, que estava «comovido e farto de chorar». «Tive a sorte, ou o azar, de ficar encalhado num tronco do Mondego, mas não me arrependo de me ter apaixonado por Coimbra e pelos estudantes», confessava.
No dia 4 de Julho de 2010, feriado municipal em Coimbra, Luzio Vaz recebeu a Medalha de Ouro da Cidade. No elogio da cerimónia, António Crespos Couto enalteceu o seu percurso profissional e associativo, mas sublinhou o que o distingue verdadeiramente: «a capacidade de estabelecer convergências, entre diferentes gerações, diferentes sensibilidades ou vivências».
«Um homem que fez da sua vida um hino à preocupação solidária», apoiando «muitos estudantes que desesperavam sem meios», que fez dos SASUC «um modelo de instituição», acrescentaria Carlos Encarnação, sublinhando que Luzio Vaz dignificou Coimbra. Emocionado, o antigo administrador agradeceu a distinção e, de capa aos ombros, fez questão de abraçar o presidente da Câmara, o reitor da UC e o presidente da Associação Académica de Coimbra.